segunda-feira, 3 de março de 2014

Crise na Ucrânia: uma nova Guerra Fria?!?!?!

Entenda o que está acontecendo na Ucrânia
Protestos no centro de Kiev já duram semanas. Oposicionistas se rebelam contra a linha pró-Rússia e antieuropeia do governo e se recusam a ceder às intimidações da polícia. 
"O tempo de duração dos protestos de rua em Kiev vai depender somente do governo", profetizou o deputado do partido de oposição Aliança Democrática Ucraniana para a Reforma (Udar), Rostyslav Pavlenko, em entrevista à Deutsche Welle no início de dezembro. 
De fato, até agora as forças de segurança ucranianas fracassaram em todas as tentativas de reprimir os protestos. Apesar do frio congelante, os manifestantes permanecem há vários dias na Praça da Independência, no centro da capital. Eles cantam, oram, erguem barricadas de madeira. Nem as investidas noturnas da polícia nem as ameaças desta puderam expulsá-los até agora. 
Se o presidente Viktor Yanukovytch pensava que iria intimidar os manifestantes com unidades especiais, parece ter calculado mal. "Aqui está sendo decidido o futuro do país", bradou Arseniy Yatsenyuk, do partido da ex-premiê Julia Tymoshenko, à multidão reunida na Praça da Independência nesta quarta-feira (11/12).     

Orientação para o Ocidente
O que teve início no final de novembro, com protestos contra o acordo de associação fracassado entre a Ucrânia e a União Europeia (UE), tem crescido rumo a um movimento de massa contra o governo do primeiro-ministro Mykola Azarov. O governo cedeu à pressão da Rússia, perdendo assim a chance de levar o país em direção ao Ocidente. A decepção de muitos ucranianos em relação a isso é grande – e se transforma cada vez mais em ira contra toda a liderança governamental.
Mas o fracasso do acordo com a UE foi apenas a faísca inicial dos protestos, diz Cornelius Ochmann, diretor da Fundação para a Cooperação Polaco-Alemã. "Em minha opinião, na Ucrânia, a sociedade civil é muito mais avançada do que pensamos. As pessoas estão fartas do estilo de governar do presidente e estão aproveitando a oportunidade para expressar a sua insatisfação."
Os protestos no centro de Kiev são conduzidos e organizados por um Comitê Nacional de Resistência, comandado pelos líderes dos três partidos de oposição: Vitali Klitschko, com seu partido Udar, Oleh Tyahnybok, com o Partido da Liberdade, como também Arseniy Yatsenyuk, com o Partido Pátria, da ex-primeira-ministra Tymoshenko. Além disso, representantes de diversas organizações da sociedade pertencem ao comitê.

Revoluções do Leste Europeu como modelo 
Rostylav Pavlenko, deputado do Udar, permanece esperançoso de que se encontre uma saída política para a crise. "Caso ela não seja encontrada, vamos manter a pressão pacificamente, até que a situação seja resolvida de uma forma civilizada”.
Segundo o deputado, a oposição ainda teria muitas formas de protesto pacífico na manga, principalmente aquelas usadas em 1989, durante a queda do regime comunista nos países do Leste Europeu e na reunificação da Alemanha. "Aprendemos muito e vamos recorrer a essas formas de protesto. Mas serão todas pacíficas".
Estrelas pop, como a cantora Ruslana, vencedora do Festival Eurovisão da Canção de 2004, apresentam-se em prol do movimento de protestos. Também filmes estão sendo mostrados em telões espalhados pela Praça da Independência.
As manifestações evidenciam uma determinação que foi subestimada por todas as partes interessadas, tanto em Kiev como também em Moscou e Bruxelas, afirma a especialista Maria Davydchyk, do Conselho Alemão para Relações Internacionais em Berlim (DGAP, na sigla em alemão). "Na parceria do Leste com a UE, o governo ucraniano viu somente uma opção, desde que ela se encaixasse no desenvolvimento político interno", sublinha Davydchyk.
Por outro lado, embora a UE tenha enviado vários sinais em direção à Ucrânia, "o bloco não mostrou nenhuma estratégia ou instrumentos concretos para a resolução dos verdadeiros problemas do país e da população." Embora a UE defenda negociações entre o governo e a oposição, até agora ela fracassou numa intermediação entre as partes. 

Perda de poder?
Para o diretor do Instituto Internacional da Democracia em Kiev, Serhiy Taran, a oposição ucraniana é capaz de forçar o governo a fazer concessões. Para isso bastaria manter a intensidade dos protestos, o que seria hoje mais fácil do que durante a Revolução Laranja, há nove anos. Pois, hoje, os manifestantes são muito mais radicais do que naquela época, explica Taran. "As pessoas poderiam ampliar os bloqueios, também à residência do presidente no subúrbio de Meshyhirya, próximo a Kiev".
Ele se disse convencido de que os atuais protestos já causaram "movimentos tectônicos na política ucraniana". Lentamente, os oligarcas e os chefes dos clãs políticos estariam se convencendo de que Yanukovytch está perdendo o poder. Segundo Taran, esse desenvolvimento enfraqueceria o governo a partir de dentro, o que poderia levar a uma mudança de poder na Ucrânia.

Por que aderir à Europa é ruim para a Ucrânia?
Desde o fim da guerra fria, o Ocidente, representado pela OTAN e pela UE, iniciou sua expansão para a área de influência da antiga URSS. A justificativa oficial baseava-se na hipótese de que a segurança do continente dependeria da implementação de regimes com democracia política e economia de mercado na região, tendo em vista que “democracias não lutam contra democracias” (Há uma corrente em relações internacionais chamada de teoria da paz democrática, que postula que esses regimes criam laços duradouros de paz entre seus vizinhos, fomentados pelo comércio e pelos controles dos civis sobre os militares, entre outros aspectos).
Todavia, na prática, o processo de expansão representou a manutenção das políticas de contenção à URSS aplicadas agora à Rússia, uma vez que esse país foi deixado de fora dos arranjos institucionais pensados pelos ocidentais. Aliada a uma grave crise econômica dos anos 1990, tal exclusão fomentou o anti-ocidentalismo na população russa, sentimento importante para se entender a legitimidade de iniciativas antagônicas aos interesses ocidentais por parte do governo russo.

Desde a resposta negativa ao acordo com a UE, em novembro de 2013, o país passa por uma onda de protestos

E no meio do caminho tinha a Ucrânia! Desde sua independência a Ucrânia soube se valer de sua posição intermediária e utilizou a Europa e os EUA para contrabalançar a influência russa e a Rússia para contrabalançar a influência dos Ocidentais.
A Rússia e a Ucrânia quase entraram em guerra nos anos 1990 devido aos movimentos separatistas da Criméia e às disputas em torno da base militar de Sevastópol e do arsenal nuclear, ambos legados do período soviético. Nesse período, o apoio dos Europeus e dos norte-americanos foi fundamental para que os ucranianos equilibrassem as relações com a Rússia.
No final dos anos 1990, com a desilusão dos ucranianos a respeito dos pífios resultados econômicos obtidos com o apoio (ou falta de apoio) ocidental, ocorreu uma inflexão pró-Rússia. Os generosos subsídios oferecidos por esse país ao setor energético ucraniano trouxeram conforto para uma elite política que pretendia se manter no poder por meio de práticas condenáveis.
Com a crescente e justificável insatisfação popular em relação à administração Kuchma e a ativa participação de governos ocidentais na Revolução Laranja, inaugurou-se uma nova fase europeia na Ucrânia, tendo Victor Yushenko a frente do país.
Novamente, frente à falta de assertividade da Europa em promover mudanças econômicas no país, o apoio da população ao pró-ocidentalismo do governo esmoreceu e a Ucrânia voltou a ter uma postura mais ponderada, com a eleição democrática de Yanukovich, mais próximo da Rússia. Yanukovich mantinha a clássica postura de barganhar com os dois vizinhos até que os europeus forçaram uma opção unilateral pela Europa.
Os motivos para a postura intransigente da UE não fazem parte do escopo desse texto. O que ocorre hoje é que a Europa está pressionando a Ucrânia para aceitar algumas de suas imposições políticas (a libertação de Yulia Timoshenko, antiga aliada de Yushenko e opositora de Yanukovich) em troca de benefícios econômicos.
Nesses termos, seria impossível à adesão ao acordo de livre comércio com a Europa e o governo da Ucrânia se voltou para a Rússia para neutralizar essa pressão. A redução dos preços da energia vendida pela Rússia para Ucrânia após o anúncio de que a Ucrânia ingressaria na União Euroasiática é um resultado desse jogo de barganhas.

Por que a Crimeia se transformou no foco da tensão na Ucrânia?
Por que a Crimeia se tornou o foco da tensão?
A região votou em peso em Yanukovych na eleição presidencial de 2010, e muitas pessoas acreditam que ele é vítima de um golpe, o que levou separatistas a tentarem pressionar o parlamento da Crimeia a votar se a região deveria se separar da Ucrânia.A Crimeia é o epicentro do sentimento pró-Rússia no país, o que pode levar ao separatismo. A região - uma península na costa ucraniana no Mar Negro - tem 2,3 milhões de habitantes, e a maioria deles se identifica como parte de grupos étnicos russos e fala russo.

A Crimeia é ucraniana de verdade?
A Rússia tem sido o poder dominante na Crimeia na maioria dos últimos 200 anos, desde que anexou à região em 1783. No entanto, a Crimeia passou das mãos de Moscou para as da Ucrânia - então parte da União Soviética - em 1954. Grupos étnicos russos que vivem na região consideram isso um erro histórico.
Mesmo assim, uma outra minoria importante, os tártaros muçulmanos da Crimeia dizem que eles já foram maioria na Ucrânia, e foram deportados em massa pelo líder da União Soviética Joseph Stalin em 1944 sob a acusação de colaborarem com a invasão nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Os membros de grupos étnicos ucranianos compõem 24% da população da Crimeia, segundo o censo de 2001, em comparação com 58% de russos e 12% de tártaros. Os tártaros vêm retornando à região desde o colapso da União Soviética em 1991, o que causa uma tensão contínua com os russos sobre o direito destas terras.

Qual é sua situação legal?
Ainda é legalmente parte da Ucrânia - uma situação que a Rússia comprometeu-se a garantir quando assinou, junto com os Estados Unidos, o Reino Unido e a França, um memorando em 1994 dizendo que protegeria a integridade territorial da Ucrânia.
Trata-se de uma república autônoma dentro da Ucrânia, com eleições parlamentares próprias. Mas o posto de presidente da Crimeia foi abolido em 1995, logo depois que um separatista pró-Rússia conquistou o posto com larga maioria. Agora, a Crimeia tem um representante presidencial e um primeiro-ministro, mas ambos são indicados pelo governo na capital Kiev.
O que a Rússia pode fazer?
A Rússia mantém uma grande base naval da cidade de Sevastopol, na Crimeia, onde está baseada sua frota do Mar Negro. Por isso, alguns ucranianos temem que os militares russos possam entrar em ação.
O acordo de arrendamento da área da base pela Rússia estipula que as tropas russas não podem sair desta área com equipamentos ou veículos militares sem a permissão da Ucrânia. Olexandr Turchynov, presidente ucraniano em exercício, alertou que qualquer movimentação de tropas russas fora da área da base "será considerada uma agressão militar".
Há relatos de que emissários russos estão distribuindo passaportes na península. As leis de defesa da Rússia permitem ações militares no exterior para "proteger os cidadãos russos". Isso gerou o medo de que a Rússia esteja usando esses acontecimentos como um pretexto para uma invasão.

Isso já aconteceu antes?
A Rússia usou uma justificativa parecida em 2008 para enviar tropas à Ossétia do Sul, quando houve uma escalada de tensão nesta região da Geórgia por causa de movimentos separatistas.
Assim como com a Geórgia, Moscou se ressente do que considera interferências da União Europeia e da OTAN na Ucrânia. E, ao fim de tudo, a OTAN não saiu em defesa da Geórgia.
Mas a Crimeia é maior do que a Ossétia do Sul, a Ucrânia é maior do que a Geórgia, e a população da Crimeia está mais dividida do que na Ossétia do Sul, onde a maioria é pró-Rússia - o que torna uma intervenção russa na Ucrânia uma aposta mais arriscada.

Já houve guerra na Crimeia?
Já houve muitas disputas pela Crimeia ao longo da história. A mais famosa é a Guerra da Crimeia, que ocorreu entre 1853 e 1856. A guerra foi resultado de ambições imperialistas, quando o Reino Unido e a França, em razão de suspeitas sobre as ambições russas na região dos Balcãs depois da queda do Império Otomano, enviaram tropas à Crimeia. A Rússia foi derrotada.

Fontes:
Portal DW.
BBC Brasil
Opera Mundi.
Adaptado do site: http://seliga-geografia.blogspot.com.br/


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