sexta-feira, 21 de março de 2014

Fontes de energia

As fontes de energia são de fundamental importância, em especial na atual sociedade capitalista. Essas substâncias, após serem submetidas a um processo de transformação, proporcionam energia para o homem cozinhar seus alimentos, aquecer e iluminar o ambiente, etc.
Contudo, foi com o advento das Revoluções Industriais, juntamente com a intensificação do processo de urbanização, que a utilização das fontes energéticas teve um aumento extraordinário. O atual modelo capitalista é altamente dependente de recursos energéticos para o funcionamento das máquinas industriais e agrícolas; os automóveis também necessitam de combustíveis para se deslocarem; e a urbanização aumentou a demanda de eletricidade.
Diante desse cenário, o consumo de energia aumentou de forma significativa, fato que tem gerado grandes problemas socioambientais. Isso porque a maioria das fontes utilizadas é de origem fóssil (carvão, gás natural, petróleo), e sua queima libera vários gases responsáveis pela poluição atmosférica, efeito estufa, contaminação dos recursos hídricos, entre outros fatores nocivos ao meio ambiente.
Outro aspecto negativo é que essas fontes não são renováveis, ou seja, elas se esgotarão da natureza. Segundo estimativas da Agência Internacional de Energia (AIE), caso se mantenha a média de consumo das últimas décadas, as reservas de petróleo e gás natural irão se esgotar em 100 anos e as de carvão, em 200 anos.
A energia nuclear, também de origem não renovável, é motivo de várias manifestações contra o seu uso, pois pode haver a liberação de material radioativo em caso de acidentes em uma usina nuclear, como os que ocorreram em Chernobyl (Ucrânia) e em Fukushima Daiichi (Japão).
Com o intuito de diversificar a matriz energética, várias pesquisas foram desenvolvidas para a obtenção de fontes limpas e renováveis. Entre elas estão à energia solar (obtida através do sol), energia eólica (dos ventos), energia das marés (correntes marítimas), biomassa (matéria orgânica), hidráulica (das águas), entre outras. Estas fontes, além de serem encontradas em abundância na natureza, geram menos impactos ambientais.

Algumas fontes de energia mais utilizadas atualmente
Carvão Mineral
O carvão mineral é um minério não metálico, de cor preta ou marrom, que apresenta grande potencial combustível. Uma vez queimado, libera uma elevada quantidade de energia.
É constituído basicamente por carbono (quanto maior o teor de carbono mais puro é o carvão) e magnésio, sendo encontrado em forma de betume (Betume, bitume (do latim bitumine) ou pez mineral é uma mistura líquida de alta viscosidade, cor escura e é facilmente inflamável. É formada por compostos químicos (hidrocarbonetos), e que pode tanto ocorrer na natureza como ser obtido artificialmente, em processo de destilação do petróleo. É popularmente designado como piche).
Esse carvão é considerado um combustível fóssil, pois as jazidas desse minério se formaram há milhões de anos; quando extensas florestas foram submersas, fazendo com que os restos de vegetais, que são ricos em carbono, se transformassem em um elemento rochoso.
O combustível fóssil é utilizado, especialmente, no aquecimento de fornos de siderúrgicas, indústria química (produção de corantes), na fabricação de explosivos, inseticidas, plásticos, medicamentos, fertilizantes e na produção de energia elétrica nas termoelétricas. O carvão mineral teve seu uso difundido bem antes do descobrimento do petróleo como fonte de energia. No século XVIII surgiram máquinas movidas a vapor, que permitiram a substituição da força animal pela mecânica.
No século XX o petróleo ocupou lugar de principal fonte de energia, superando o uso do carvão mineral, no entanto, sua importância é bastante representativa no mundo. Atualmente, do total de reservas de carvão existentes no mundo, 56,5% se encontra na Rússia; 19,5%, nos Estados Unidos; 9,5%, na China; 7,8%, no Canadá; 5,0%, na Europa; 1,3%, na África; e 0,4%, em outros países.

Energia das marés
A energia das marés, também conhecida como energia maremotriz, é obtida por meio do aproveitamento da energia proveniente do desnível das marés. Para que essa energia seja revertida em eletricidade é necessária à construção de barragens, eclusas (permitindo a entrada e saída de água) e unidades geradoras de energia.
O sistema utilizado é semelhante ao de uma usina hidrelétrica. As barragens são construídas próximas ao mar, e os diques são responsáveis pela captação de água durante a alta da maré. A água é armazenada e, em seguida, é liberada durante a baixa da maré, passando por uma turbina que gera energia elétrica.
A força das marés tem sido aproveitada desde o século XI, quando franceses e ingleses utilizavam esse artifício para a movimentação de pequenos moinhos. Porém, o primeiro grande projeto para a geração de eletricidade através das marés foi realizado em 1967. Nesse ano, franceses construíram uma barragem de 710 metros no Rio Rance, aproveitando o potencial energético das marés.
Essa é uma boa alternativa para a produção de eletricidade, visto que a energia das marés é uma fonte limpa e renovável. No entanto, é importante destacar que poucas localidades apresentam características propícias para a obtenção desse tipo de energia, visto que o desnível das marés deve ser superior a 7 metros. Outros fatores agravantes são os altos investimentos e o baixo aproveitamento energético.
Entre os locais com potencial para a produção de energia das marés estão a baía de Fundy (Canadá) e a baía Mont-Saint-Michel (França), ambas com mais de 15 metros de desnível. No Brasil, podemos destacar o estuário do Rio Bacanga, em São Luís (MA), com marés de até 7 metros, e, principalmente, a ilha de Macapá (AP), com marés que atingem até 11 metros.

Energia Geotérmica

A energia geotérmica se caracteriza pelo calor proveniente da Terra, é a energia calorífera gerada a menos de 64 quilômetros da superfície terrestre, em uma camada de rochas, chamada magma, que chega a atingir até 6.000°C. Geo significa terra e térmica corresponde a calor, portanto, geotérmica é a energia calorífica oriunda da terra.
O magma resulta das tremendas pressões abaixo da superfície e do calor gerado pela decomposição de substâncias radioativas, como o urânio e o tório. Encontrando fissuras na crosta terrestre, o magma explode em erupções vulcânicas, ou os gases liberados com o seu resfriamento aquecem águas subterrâneas que afloram na forma de gêiseres ou minas de água quente.
A energia elétrica pode ser obtida através da perfuração do solo em locais onde há grande quantidade de vapor e água quente, estes devem ser drenados até a superfície terrestre por meio de tubulações específicas. Em seguida o vapor é transportado a uma central elétrica geotérmica, que irá girar as lâminas de uma turbina. Por fim, a energia obtida através da movimentação das lâminas (energia mecânica) é transformada em energia elétrica através do gerador.
Os aspectos positivos desse tipo de energia são:        
A emissão de gases poluentes (CO2 e SO2) é praticamente nula, não intensificando o efeito de estufa, diferentemente dos combustíveis de origem fóssil. A área necessária para a instalação da usina é pequena. Pode abastecer comunidades isoladas.
Os aspectos negativos:            
É uma energia muito cara e pouco rentável, pois necessita de altos investimentos estruturais e sua eficiência é baixa. Pode ocasionar o esgotamento do campo geotérmico. O calor perdido aumenta a temperatura do ambiente. Ocorre a emissão de ácido sulfídrico (H2S), extremamente corrosivo e nocivo à saúde.

Energia hidrelétrica
A energia hidrelétrica é a obtenção de energia elétrica através do aproveitamento do potencial hidráulico de um rio. Para que esse processo seja realizado é necessária à construção de usinas em rios que possuam elevado volume de água e que apresentem desníveis em seu curso.
A força da água em movimento é conhecida como energia potencial, essa água passa por tubulações da usina com muita força e velocidade, realizando a movimentação das turbinas. Nesse processo, ocorre a transformação de energia potencial (energia da água) em energia mecânica (movimento das turbinas). As turbinas em movimento estão conectadas a um gerador, que é responsável pela transformação da energia mecânica em energia elétrica.
Normalmente as usinas hidrelétricas são construídas em locais distantes dos centros consumidores, esse fato eleva os valores do transporte de energia, que é transmitida por fios até as cidades.
A eficiência energética das hidrelétricas é muito alta, em torno de 95%. O investimento inicial e os custos de manutenção são elevados, porém, o custo do combustível (água) é nulo. Atualmente, as usinas hidrelétricas são responsáveis por aproximadamente 18% da produção de energia elétrica no mundo. Esses dados só não são maiores pelo fato de poucos países apresentarem as condições naturais para a instalação de usinas hidrelétricas. As nações que possuem grande potencial hidráulico são os Estados Unidos, Canadá, Brasil, Rússia e China. No Brasil, mais de 95% da energia elétrica produzida é proveniente de usinas hidrelétricas.
Apesar de ser uma fonte de energia renovável e não emitir poluentes, a energia hidrelétrica não está isenta de impactos ambientais e sociais. A inundação de áreas para a construção de barragens gera problemas de realocação das populações ribeirinhas, comunidades indígenas e pequenos agricultores.
Os principais impactos ambientais ocasionados pelo represamento da água para a formação de imensos lagos artificiais são: destruição de extensas áreas de vegetação natural, matas ciliares, o desmoronamento das margens, o assoreamento do leito dos rios, prejuízos à fauna e à flora locais, alterações no regime hidráulico dos rios, possibilidades da transmissão de doenças, como esquistossomose e malária, extinção de algumas espécies de peixes.

Energia nuclear
A energia nuclear, também chamada atômica, é obtida a partir da fissão do núcleo do átomo de urânio enriquecido, liberando uma grande quantidade de energia. A energia nuclear mantém unidas as partículas do núcleo de um átomo. A divisão desse núcleo em duas partes provoca a liberação de grande quantidade de energia.
Os primeiros resultados da divisão do átomo de metais pesados, como o urânio e o plutônio, foram obtidos em 1938. A princípio, a energia liberada pela fissão nuclear foi utilizada para objetivos militares. Posteriormente, as pesquisas avançaram e foram desenvolvidas com o intuito de produzir energia elétrica. No entanto, armas nucleares continuam sendo produzidas através do enriquecimento de urânio.
Atualmente os Estados Unidos lideram a produção de energia nuclear, porém os países mais dependentes da energia nuclear são França, Suécia, Finlândia e Bélgica. Na França, cerca de 80% de sua eletricidade é oriunda de centrais atômicas.
No fim da década de 1960, o governo brasileiro começou a desenvolver o Programa Nuclear Brasileiro, destinado a implantar no país a produção de energia atômica. O país possui a central nuclear Almirante Álvaro Alberto, constituída por três unidades (Angra 1, Angra 2, e Angra 3). Está instalada no município de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro. Atualmente, apenas Angra 2 está em funcionamento.
Essa fonte energética é responsável por muita polêmica e desconfiança: a falta de segurança, a destinação do lixo atômico, além da possibilidade de acontecerem acidentes nas usinas, geram a reprovação da utilização da energia nuclear por grande parte da população. Alguns acidentes em usinas nucleares já aconteceram, entre eles estão:
Three Miles Island – em 1979, na usina localizada na Pensilvânia (EUA), ocorreu a fusão do núcleo do reator e a liberação de elevados índices de radioatividade que atingiram regiões vizinhas.
Chernobyl – em 1986 ocorreram o incêndio e o vazamento de radiação na usina ucraniana, na extinta União Soviética, com milhares de feridos e mortos, podendo a contaminação radioativa ter causado 1 milhão de casos de câncer nos 20 anos seguintes.
A energia nuclear apresenta vários aspectos positivos, sendo de fundamental importância em países que não possuem recursos naturais para a obtenção de energia. Estudos mais aprofundados devem ser realizados sobre essa fonte energética, ainda existem vários pontos a serem aperfeiçoados, de forma que possam garantir segurança para a população.
Aspectos positivos da energia nuclear:            
- As reservas de energia nuclear são muito maiores que as reservas de combustíveis fósseis;
- Comparada às usinas de combustíveis fósseis, a usina nuclear requer menores áreas;
- As usinas nucleares possibilitam maior independência energética para os países importadores de petróleo e gás;     
- Não contribui para o efeito estufa.     

Aspectos negativos:     
- Os custos de construção e operação das usinas são muito altos;          
- Possibilidade de construção de armas nucleares;        
- Destinação do lixo atômico;    
- Acidentes que resultam em liberação de material radioativo;
- O plutônio 239 leva 24.000 anos para ter sua radioatividade reduzida à metade, e cerca de 50.000 anos para tornar-se inócuo.

Gás natural
O gás natural é composto por uma mistura de hidrocarbonetos leves (metano, etano, propano, butano e outros gases em menores proporções) que submetido à temperatura ambiente e pressão atmosférica permanece no estado gasoso. É uma fonte energética encontrada na natureza em duas formas distintas. Ele pode ser obtido em jazidas e através da queima de biomassa (bagaço de cana-de-açúcar).
O gás natural encontrado em jazidas normalmente está associado ao petróleo. Constitui reservas finitas, e, conforme pesquisas realizadas pela IEA (Agência Internacional de Energia), caso se mantenha o ritmo de consumo médio da última década, as jazidas de gás natural irão se esgotar em 100 anos. Essa fonte energética agride menos o meio ambiente que o petróleo e o carvão mineral. No entanto, por ser de origem fóssil, sua combustão contribui para o efeito de estufa. Já o biogás, obtido através da biomassa, é um combustível renovável, sua utilização é menos impactante e os custos econômicos são menores.
As tubulações responsáveis pelo envio de gás natural das fontes produtoras até os consumidores recebem o nome de gasoduto. O Brasil possui o gasoduto Bolívia – Brasil. São tubulações de diâmetro elevado, operando em alta pressão que transportam gás natural da Bolívia (produtor) para alguns Estados brasileiros (consumidores).
Depois de tratado e processado, o gás natural pode ser utilizado nas indústrias, residências, automóveis e comércio. Nas indústrias, sua utilização ocorre, principalmente, para a geração de eletricidade. Nas residências, o gás natural é usado para o aquecimento ambiental e de água. Nos automóveis, essa fonte energética substitui os combustíveis (gasolina, álcool e diesel). No comércio, sua utilização se dá principalmente para o aquecimento ambiental. Atualmente a utilização do gás natural corresponde a 15,6% do consumo energético mundial.
No Brasil, com a descoberta da camada pré-sal, que consiste em um óleo em camadas profundas - de 5 a 7 mil metros abaixo do nível do mar, estimativas apontam que o país irá dobrar seu volume de gás natural.


Fontes:
http://www.brasilescola.com/geografia/fontes-energia.htm
http://www.brasilescola.com/geografia/carvao-mineral.htm
http://www.brasilescola.com/geografia/energia-das-mares.htm
http://www.brasilescola.com/geografia/energia-geotermica-1.htm
http://www.brasilescola.com/geografia/energia-hidreletrica.htm
http://www.brasilescola.com/geografia/energia-nuclear.htm
http://www.brasilescola.com/geografia/fontes-gas-natural.htm
Adaptado e editado por: Professor Hudson de Paula.


segunda-feira, 3 de março de 2014

Crise na Ucrânia: uma nova Guerra Fria?!?!?!

Entenda o que está acontecendo na Ucrânia
Protestos no centro de Kiev já duram semanas. Oposicionistas se rebelam contra a linha pró-Rússia e antieuropeia do governo e se recusam a ceder às intimidações da polícia. 
"O tempo de duração dos protestos de rua em Kiev vai depender somente do governo", profetizou o deputado do partido de oposição Aliança Democrática Ucraniana para a Reforma (Udar), Rostyslav Pavlenko, em entrevista à Deutsche Welle no início de dezembro. 
De fato, até agora as forças de segurança ucranianas fracassaram em todas as tentativas de reprimir os protestos. Apesar do frio congelante, os manifestantes permanecem há vários dias na Praça da Independência, no centro da capital. Eles cantam, oram, erguem barricadas de madeira. Nem as investidas noturnas da polícia nem as ameaças desta puderam expulsá-los até agora. 
Se o presidente Viktor Yanukovytch pensava que iria intimidar os manifestantes com unidades especiais, parece ter calculado mal. "Aqui está sendo decidido o futuro do país", bradou Arseniy Yatsenyuk, do partido da ex-premiê Julia Tymoshenko, à multidão reunida na Praça da Independência nesta quarta-feira (11/12).     

Orientação para o Ocidente
O que teve início no final de novembro, com protestos contra o acordo de associação fracassado entre a Ucrânia e a União Europeia (UE), tem crescido rumo a um movimento de massa contra o governo do primeiro-ministro Mykola Azarov. O governo cedeu à pressão da Rússia, perdendo assim a chance de levar o país em direção ao Ocidente. A decepção de muitos ucranianos em relação a isso é grande – e se transforma cada vez mais em ira contra toda a liderança governamental.
Mas o fracasso do acordo com a UE foi apenas a faísca inicial dos protestos, diz Cornelius Ochmann, diretor da Fundação para a Cooperação Polaco-Alemã. "Em minha opinião, na Ucrânia, a sociedade civil é muito mais avançada do que pensamos. As pessoas estão fartas do estilo de governar do presidente e estão aproveitando a oportunidade para expressar a sua insatisfação."
Os protestos no centro de Kiev são conduzidos e organizados por um Comitê Nacional de Resistência, comandado pelos líderes dos três partidos de oposição: Vitali Klitschko, com seu partido Udar, Oleh Tyahnybok, com o Partido da Liberdade, como também Arseniy Yatsenyuk, com o Partido Pátria, da ex-primeira-ministra Tymoshenko. Além disso, representantes de diversas organizações da sociedade pertencem ao comitê.

Revoluções do Leste Europeu como modelo 
Rostylav Pavlenko, deputado do Udar, permanece esperançoso de que se encontre uma saída política para a crise. "Caso ela não seja encontrada, vamos manter a pressão pacificamente, até que a situação seja resolvida de uma forma civilizada”.
Segundo o deputado, a oposição ainda teria muitas formas de protesto pacífico na manga, principalmente aquelas usadas em 1989, durante a queda do regime comunista nos países do Leste Europeu e na reunificação da Alemanha. "Aprendemos muito e vamos recorrer a essas formas de protesto. Mas serão todas pacíficas".
Estrelas pop, como a cantora Ruslana, vencedora do Festival Eurovisão da Canção de 2004, apresentam-se em prol do movimento de protestos. Também filmes estão sendo mostrados em telões espalhados pela Praça da Independência.
As manifestações evidenciam uma determinação que foi subestimada por todas as partes interessadas, tanto em Kiev como também em Moscou e Bruxelas, afirma a especialista Maria Davydchyk, do Conselho Alemão para Relações Internacionais em Berlim (DGAP, na sigla em alemão). "Na parceria do Leste com a UE, o governo ucraniano viu somente uma opção, desde que ela se encaixasse no desenvolvimento político interno", sublinha Davydchyk.
Por outro lado, embora a UE tenha enviado vários sinais em direção à Ucrânia, "o bloco não mostrou nenhuma estratégia ou instrumentos concretos para a resolução dos verdadeiros problemas do país e da população." Embora a UE defenda negociações entre o governo e a oposição, até agora ela fracassou numa intermediação entre as partes. 

Perda de poder?
Para o diretor do Instituto Internacional da Democracia em Kiev, Serhiy Taran, a oposição ucraniana é capaz de forçar o governo a fazer concessões. Para isso bastaria manter a intensidade dos protestos, o que seria hoje mais fácil do que durante a Revolução Laranja, há nove anos. Pois, hoje, os manifestantes são muito mais radicais do que naquela época, explica Taran. "As pessoas poderiam ampliar os bloqueios, também à residência do presidente no subúrbio de Meshyhirya, próximo a Kiev".
Ele se disse convencido de que os atuais protestos já causaram "movimentos tectônicos na política ucraniana". Lentamente, os oligarcas e os chefes dos clãs políticos estariam se convencendo de que Yanukovytch está perdendo o poder. Segundo Taran, esse desenvolvimento enfraqueceria o governo a partir de dentro, o que poderia levar a uma mudança de poder na Ucrânia.

Por que aderir à Europa é ruim para a Ucrânia?
Desde o fim da guerra fria, o Ocidente, representado pela OTAN e pela UE, iniciou sua expansão para a área de influência da antiga URSS. A justificativa oficial baseava-se na hipótese de que a segurança do continente dependeria da implementação de regimes com democracia política e economia de mercado na região, tendo em vista que “democracias não lutam contra democracias” (Há uma corrente em relações internacionais chamada de teoria da paz democrática, que postula que esses regimes criam laços duradouros de paz entre seus vizinhos, fomentados pelo comércio e pelos controles dos civis sobre os militares, entre outros aspectos).
Todavia, na prática, o processo de expansão representou a manutenção das políticas de contenção à URSS aplicadas agora à Rússia, uma vez que esse país foi deixado de fora dos arranjos institucionais pensados pelos ocidentais. Aliada a uma grave crise econômica dos anos 1990, tal exclusão fomentou o anti-ocidentalismo na população russa, sentimento importante para se entender a legitimidade de iniciativas antagônicas aos interesses ocidentais por parte do governo russo.

Desde a resposta negativa ao acordo com a UE, em novembro de 2013, o país passa por uma onda de protestos

E no meio do caminho tinha a Ucrânia! Desde sua independência a Ucrânia soube se valer de sua posição intermediária e utilizou a Europa e os EUA para contrabalançar a influência russa e a Rússia para contrabalançar a influência dos Ocidentais.
A Rússia e a Ucrânia quase entraram em guerra nos anos 1990 devido aos movimentos separatistas da Criméia e às disputas em torno da base militar de Sevastópol e do arsenal nuclear, ambos legados do período soviético. Nesse período, o apoio dos Europeus e dos norte-americanos foi fundamental para que os ucranianos equilibrassem as relações com a Rússia.
No final dos anos 1990, com a desilusão dos ucranianos a respeito dos pífios resultados econômicos obtidos com o apoio (ou falta de apoio) ocidental, ocorreu uma inflexão pró-Rússia. Os generosos subsídios oferecidos por esse país ao setor energético ucraniano trouxeram conforto para uma elite política que pretendia se manter no poder por meio de práticas condenáveis.
Com a crescente e justificável insatisfação popular em relação à administração Kuchma e a ativa participação de governos ocidentais na Revolução Laranja, inaugurou-se uma nova fase europeia na Ucrânia, tendo Victor Yushenko a frente do país.
Novamente, frente à falta de assertividade da Europa em promover mudanças econômicas no país, o apoio da população ao pró-ocidentalismo do governo esmoreceu e a Ucrânia voltou a ter uma postura mais ponderada, com a eleição democrática de Yanukovich, mais próximo da Rússia. Yanukovich mantinha a clássica postura de barganhar com os dois vizinhos até que os europeus forçaram uma opção unilateral pela Europa.
Os motivos para a postura intransigente da UE não fazem parte do escopo desse texto. O que ocorre hoje é que a Europa está pressionando a Ucrânia para aceitar algumas de suas imposições políticas (a libertação de Yulia Timoshenko, antiga aliada de Yushenko e opositora de Yanukovich) em troca de benefícios econômicos.
Nesses termos, seria impossível à adesão ao acordo de livre comércio com a Europa e o governo da Ucrânia se voltou para a Rússia para neutralizar essa pressão. A redução dos preços da energia vendida pela Rússia para Ucrânia após o anúncio de que a Ucrânia ingressaria na União Euroasiática é um resultado desse jogo de barganhas.

Por que a Crimeia se transformou no foco da tensão na Ucrânia?
Por que a Crimeia se tornou o foco da tensão?
A região votou em peso em Yanukovych na eleição presidencial de 2010, e muitas pessoas acreditam que ele é vítima de um golpe, o que levou separatistas a tentarem pressionar o parlamento da Crimeia a votar se a região deveria se separar da Ucrânia.A Crimeia é o epicentro do sentimento pró-Rússia no país, o que pode levar ao separatismo. A região - uma península na costa ucraniana no Mar Negro - tem 2,3 milhões de habitantes, e a maioria deles se identifica como parte de grupos étnicos russos e fala russo.

A Crimeia é ucraniana de verdade?
A Rússia tem sido o poder dominante na Crimeia na maioria dos últimos 200 anos, desde que anexou à região em 1783. No entanto, a Crimeia passou das mãos de Moscou para as da Ucrânia - então parte da União Soviética - em 1954. Grupos étnicos russos que vivem na região consideram isso um erro histórico.
Mesmo assim, uma outra minoria importante, os tártaros muçulmanos da Crimeia dizem que eles já foram maioria na Ucrânia, e foram deportados em massa pelo líder da União Soviética Joseph Stalin em 1944 sob a acusação de colaborarem com a invasão nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Os membros de grupos étnicos ucranianos compõem 24% da população da Crimeia, segundo o censo de 2001, em comparação com 58% de russos e 12% de tártaros. Os tártaros vêm retornando à região desde o colapso da União Soviética em 1991, o que causa uma tensão contínua com os russos sobre o direito destas terras.

Qual é sua situação legal?
Ainda é legalmente parte da Ucrânia - uma situação que a Rússia comprometeu-se a garantir quando assinou, junto com os Estados Unidos, o Reino Unido e a França, um memorando em 1994 dizendo que protegeria a integridade territorial da Ucrânia.
Trata-se de uma república autônoma dentro da Ucrânia, com eleições parlamentares próprias. Mas o posto de presidente da Crimeia foi abolido em 1995, logo depois que um separatista pró-Rússia conquistou o posto com larga maioria. Agora, a Crimeia tem um representante presidencial e um primeiro-ministro, mas ambos são indicados pelo governo na capital Kiev.
O que a Rússia pode fazer?
A Rússia mantém uma grande base naval da cidade de Sevastopol, na Crimeia, onde está baseada sua frota do Mar Negro. Por isso, alguns ucranianos temem que os militares russos possam entrar em ação.
O acordo de arrendamento da área da base pela Rússia estipula que as tropas russas não podem sair desta área com equipamentos ou veículos militares sem a permissão da Ucrânia. Olexandr Turchynov, presidente ucraniano em exercício, alertou que qualquer movimentação de tropas russas fora da área da base "será considerada uma agressão militar".
Há relatos de que emissários russos estão distribuindo passaportes na península. As leis de defesa da Rússia permitem ações militares no exterior para "proteger os cidadãos russos". Isso gerou o medo de que a Rússia esteja usando esses acontecimentos como um pretexto para uma invasão.

Isso já aconteceu antes?
A Rússia usou uma justificativa parecida em 2008 para enviar tropas à Ossétia do Sul, quando houve uma escalada de tensão nesta região da Geórgia por causa de movimentos separatistas.
Assim como com a Geórgia, Moscou se ressente do que considera interferências da União Europeia e da OTAN na Ucrânia. E, ao fim de tudo, a OTAN não saiu em defesa da Geórgia.
Mas a Crimeia é maior do que a Ossétia do Sul, a Ucrânia é maior do que a Geórgia, e a população da Crimeia está mais dividida do que na Ossétia do Sul, onde a maioria é pró-Rússia - o que torna uma intervenção russa na Ucrânia uma aposta mais arriscada.

Já houve guerra na Crimeia?
Já houve muitas disputas pela Crimeia ao longo da história. A mais famosa é a Guerra da Crimeia, que ocorreu entre 1853 e 1856. A guerra foi resultado de ambições imperialistas, quando o Reino Unido e a França, em razão de suspeitas sobre as ambições russas na região dos Balcãs depois da queda do Império Otomano, enviaram tropas à Crimeia. A Rússia foi derrotada.

Fontes:
Portal DW.
BBC Brasil
Opera Mundi.
Adaptado do site: http://seliga-geografia.blogspot.com.br/